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Setembro amarelo: conscientização fundamental

O mês de setembro já é reconhecido por uma cor e um significado. Nesta época, o amarelo predomina na iluminação de pontos turísticos e fachadas de instituições e um laço nessa cor é estampado por toda parte para acender o alerta para uma causa nobre: a campanha de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Criada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a campanha tem a proposta de associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, 10 de setembro.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), 50% dos suicidas têm alguma doença mental identificada, não tratada ou tratada de maneira inadequada. Mas, há diversos motivos que levam uma pessoa a chegar ao ponto de cogitar a decisão extrema do autoextermínio. Por isso, sempre deve ser visto como um evento complexo e multifatorial. No entanto, alguns sinais podem ser observados e tomados como indicativos de maior risco: isolamento afetivo e sentimento de solidão, sentimento de desamparo e desesperança, excessiva autodesvalorização e autoculpabilização, relações familiares fragilizadas, abuso de álcool e/ou drogas.

Uma possível desencadeadora desses comportamentos é a depressão, doença conhecida como o mal do século e classificada, de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), como “doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que pelo menos 322 milhões de pessoas no mundo sofram com o problema, 18% a mais do que há uma década. A causa pode ser desencadeada por fatores genéticos, por comorbidades, fatores sociodemográficos ou por experiências pessoais. E, ao contrário do estereótipo popular, não é frescura, não é falta de fé. Por isso, é preciso estar atento aos sintomas.

É importante, no entanto, distinguir a tristeza patológica daquela transitória provocada por acontecimentos difíceis, mas que são inerentes à vida de todas as pessoas, como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, e as dificuldades econômicas, entre outros problemas. Diante das adversidades, as pessoas sofrem, mas encontram uma forma de superá-las. Nos quadros de depressão, a tristeza não dá tréguas, mesmo que não haja uma causa aparente.

Aline Aguiar, professora da Faculdade de Psicologia da PUC Minas, explica que o que vai diferenciar a tristeza cotidiana da depressão é a frequência e a intensidade dos episódios de angústia, apatia, isolamento e, principalmente, mudança de comportamento. “Se o sujeito não era assim e passou a ser, é um elemento importante para família e amigos estarem atentos. Quando isso, de alguma forma, traz empobrecimento para a sua vida relacional e laboral, e quando ele vai perdendo a vontade e a possibilidade de falar sobre a dor que ele sente, isso é um índice de que isso está passando de uma tristeza que poderia ser transitória para uma depressão”.

A professora também explica que há diferentes gradações desses episódios que permitem entender esse transtorno, no âmbito da Psicopatologia. “Se o episódio é leve, no qual aparentemente não vai ter prejuízos muito grandes na sua vida laboral e afetiva; se os episódios vão se tornando mais recorrentes, com prejuízos importantes na vida da pessoa, tanto laboral quanto nos afetos e nas relações; e os episódios graves, que podem, inclusive, ter sintomas psicóticos, como alucinações e delírios, até de indignidade”.

Diante desse diagnóstico, o apoio de amigos e familiares, assim como ajuda profissional, é fundamental. Ainda que não haja uma fórmula pronta para lidar com as exigências da vida moderna, a psicóloga aponta para algo que, certamente, faz a diferença: encontrar espaços para falar abertamente sobre fragilidades e dificuldades, sem receio ou julgamento, de modo que quem esteja passando por essa situação possa ser ajudado. “O medicamento por si só não vai conseguir tratar a pessoa devidamente. É preciso que ele também possa falar da sua experiência, mesmo que isso seja difícil em determinado momento, que ele possa se responsabilizar, de alguma forma, pela sua condição, que ele possa ser autor da sua história, se perguntar sobre o que está acontecendo com ele, elaborar a sua dor de existir. Isso é fundamental para alguém que está deprimido”, pontua.

E, quanto antes essa situação for percebida, menor a chance de se chegar a um desfecho extremo. O suicídio tem causado um número elevado de mortes em todo o mundo. Os últimos dados compilados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) dão conta de 800 mil mortes no ano: uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, o número de casos vem crescendo. Eram 0,31 casos a cada 100 mil habitantes em 2010. Já em 2019, o número saltou para 0,67 casos a cada 100 mil habitantes, conforme dados do Ministério da Saúde.

No dia 10 de setembro do ano passado, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertou que a pandemia de Covid-19 exacerbou os fatores de risco associados a comportamentos suicidas e pediu que seja dada prioridade à prevenção. “A sociedade ficou mais atenta à saúde mental pós-pandemia porque o sofrimento mental foi grande. Isso trouxe a discussão sobre saúde mental para dentro das casas e das famílias. Temos que estar atentos, principalmente com jovens, que as telas não substituem as relações de carne e osso, ao vivo e a cores. O contato com o outro, a possibilidade das relações construídas, o espaço aberto para surpresas, invenções, para desencontros e para a elaboração desses desencontros, é isso que faz a vida ficar pulsante e desejante. E a pandemia ensinou que uma vida apenas vivida nas telas é muito empobrecedor subjetivamente e isso também é adoecedor”, pontua Aline, sobre a necessidade de se retomar os encontros. A professora completa que a pandemia também ensinou sobre a necessidade do cuidado coletivo. “Enquanto sociedade, nós só vamos conseguir sobreviver se tivermos cuidados um com o outro”, afirma a professora.

É neste momento que campanhas de conscientização e de auxílio são fundamentais, tanto para quem sofre quanto para familiares e amigos que acompanham esse sofrimento. O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita pessoas que querem e precisam conversar, pelo telefone 188, e-mail ou chat 24 horas no cvv.org.br. As conversas são sigilosas e a identidade de quem entra em contato é preservada.

“Cada vez mais nós percebemos que é preciso dar voz ao sujeito que sofre para que ele possa dar um nome ao seu sofrimento. Nesse sentido, abrir essa possibilidade de que é possível se ter ajuda, é possível se endereçar ao outro, é possível elaborar sobre a dor de existir e achar outras saídas, e que é muito importante também que isso não seja banalizado, que isso seja de alguma forma também reconhecido como uma dor importante que tem que ter um espaço para que ela seja colocada em palavras. Então, eu acho que a campanha Setembro Amarelo deve ser feita nesse sentido, como uma possibilidade de dizer que há uma outra saída para a dor de existir. E essa saída passa pela possibilidade de falar, tanto falar com o terapeuta quanto falar em espaços coletivos, como é no caso de jovens, o tanto que isso é potente e possibilita outras invenções de vida”.

Mas, é importante ressaltar que essa discussão não deve se ater apenas ao mês de setembro. Assim como o suicídio é um tema que deve ser naturalizado, é necessário que a necessidade de se priorizar a saúde mental seja um assunto cada vez mais discutido, pois, é por meio da promoção de saúde e bem-estar que essa triste estatística pode ser atenuada. O melhor caminho para, então, ficar e permanecer bem é, de acordo com a professora, o fortalecimento da saúde mental, de modo a favorecer que as pessoas aumentem seu repertório de recursos psíquicos para enfrentar as dificuldades e sobreviver às pressões. Além disso, é importante cultivar hábitos saudáveis e, para além das obrigações do dia a dia, reservar um tempo para praticar atividades físicas e ter momentos de lazer. “Essas atitudes ajudam a retomar o gosto pela vida. Além disso, a possibilidade de o sujeito também poder encarar, poder fazer um trabalho de elaboração sobre as suas frustrações, sobre os seus desencontros, e não apenas viver a busca do sucesso a qualquer custo, sem passar por esses momentos, que vão estar inevitavelmente em qualquer caminho de vida”, afirma.

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