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O inverno começa oficialmente no dia 21 de junho, mas o céu sem nuvens, os arrepios, os calafrios e o vento gelado, uma das suas principais características, já estão por aí há algum tempo, não é? Inclusive, não é raro ouvirmos que, por causa das baixas temperaturas nessa época do ano, as pessoas se vestem melhor do que nas outras estações.
Outro senso comum relacionado às roupas é o de que aquela etiqueta dentro da peça, que muitas vezes cortamos porque incomoda, não tem tanta importância assim. Mas, é nela que está uma das informações mais valiosas para a nossa sociedade quando o tema é sustentabilidade: quais materiais fazem parte da composição do tecido.
Os tecidos mais comuns são o poliéster, o nylon e a poliamida, materiais formados por microplásticos sintéticos derivados do petróleo. Essas pequenas partículas, de até cinco milímetros de diâmetro, se desprendem das roupas a cada lavagem, escoam para os rios, mares, contaminam a vida marinha e, consequentemente, os peixes que consumimos e a água que bebemos.
Estima-se que cada pessoa no planeta consuma mais de 50 mil micropartículas de plástico por ano, e esse número pode ser maior se a inalação for considerada. Segundo o Jornal da USP, pesquisas recentes sobre o impacto poluidor do plástico mostram que a presença do nylon no tecido pulmonar pode afetar o desenvolvimento de células tronco pulmonares, prejudicando pulmões em desenvolvimento e a cicatrização das vias aéreas.
Uma pessoa adulta bebe por ano, em média, 830 litros de água. Para produzir uma única calça jeans são usados cerca de 5 mil litros de água, além de um volume impossível de mensurar no processo de tingimento e lavagem das peças.
Especialistas em sustentabilidade recomendam que o jeans, uma peça originalmente pensada para durar e que reflete bem o quanto a moda é cíclica e inspirada em épocas passadas, seja escolhida com poucas estampas e menos elastano na composição, o que facilita a reciclagem do material. Reutilização essa que pode acontecer através de trocas entre familiares, revenda on-line e compra nos bons e velhos brechós. Victoria Andery de Miranda, funcionária da Secretaria Geral, afirma que a maior parte do seu guarda-roupas é herdada ou de segunda mão. “São peças boas, muitas vezes melhores do que das lojas, às vezes são exclusivas e até com etiqueta, porque vêm de outros países”, reforça.
Na família da cineasta Beatriz Cordeiro Xavier, de 23 anos, funcionária da Produtora Audiovisual E-motion, a troca e doação de roupas entre parentes sempre foi uma tradição. Ela lembra das peças que recebeu de suas primas da mesma faixa etária na infância e de como sua mãe, que fazia peças em crochê, também a levava a brechós. “Ela me levava pra comprar roupas específicas, roupas para sair, principalmente por causa do dinheiro, porque era mais barato” conta.
Nos últimos anos, de apenas mais baratos e econômicos, os brechós se transformaram em lugares descolados onde é possível consumir tendências com pouco peso na consciência. Estudos estimam que a cada nova peça que deixa de ser produzida, ocorra uma redução da emissão de carbono de até 82%. A roupa mais sustentável é aquela que já existe, e a economia circular é um nicho de mercado em expansão, com projeções que indicam um crescimento nos próximos anos superior ao das grandes lojas de departamento conhecidas como fast fashion, que vendem roupas produzidas em larga escala inspiradas nas tendências do mercado.
Beatriz ainda não sabia, mas o costume de garimpar peças de segunda mão que herdou da mãe está de acordo com o tema do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de junho, proposto pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O plástico de uso único descartado ou queimado prejudica a saúde humana e a biodiversidade e polui todos os ecossistemas desde o topo das montanhas até o fundo do oceano.
“Quando eu comecei a consumir roupas de brechó, não tinha muita noção do impacto que essa ação tinha no todo. Depois de estudar o assunto e conversar com outras pessoas é que fui entendendo a quantidade de água gasta para produzir as peças e o tempo de decomposição delas” explica a cineasta que, pensando nas condições precárias das mulheres trabalhadoras da indústria da moda em todo o mundo, optou por não consumir roupas das grandes marcas do segmento.
De acordo com a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas a cada ano em todo o mundo, e metade deste plástico é projetado para ser usado apenas uma vez. Da produção total, menos de 10% é reciclado. Estima-se que 19 a 23 milhões de toneladas acabem anualmente em lagos, rios e mares.
As roupas feitas desses materiais, quando descartadas em aterros, demoram cerca de 400 anos para se decomporem. Nesse processo, eliminam também gases tóxicos que aumentam o desequilíbrio da atmosfera.
A indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo. O processo de produção em alta escala é responsável por 8 a 10% da emissão de gases do efeito estufa. Além disso, os impactos ambientais começam já no início, ainda na produção do algodão, com a utilização de agrotóxicos, passando pelo uso de químicas em todo o processo de tingimento, no uso predatório de recursos naturais como a água. O que faz com que, do início ao fim da sua existência, um simples casaco contribua tão negativamente para a crise climática do planeta.
Nem toda revolução começa com estardalhaço. Às vezes, as grandes revoluções começam pequenas, com ações individuais, no nosso guarda-roupas e na escolha da roupa que vai nos proteger do frio.
Secretaria de Comunicação | Recursos Humanos